quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Guatemala

E depois das paisagens naturais e das culturas milenares, um pequeno olhar sobre a actualidade.

Ora como ja tinha referido, no Mexico todos olham para os estrangeiros como se tivessem cifroes na testa. So querem e o dinheiro, especialmente se fores gringo (atencao, gringo e apenas o americano, nao e todo o estrangeiro), mas esses tambem gostam de ser enganados, tem tanto dinheiro que nem sabem o que fazer com ele. No Chichen Itza vi um par de americanos a comprarem umas esculturas de madeira de uns motivos maias aos nativos que lhes disseram que custavam 200 pesos (aproximadamente USD20, mas obviamente que ainda tinham de ser sujeitos a negociacao). Como eles so tinham dolares, perguntaram quanto era em dolares. O mexicano tambem nao se fez de esquisito e disse, 200 dolares, o preco e o mesmo, a conversao e igual. Um deles ainda ficou admirado a dizer: "e igual? Ah, nao sabia!". Resultado: pagaram os 200 dolares que se regalaram. Confesso que ainda fiquei a pensar se havia de revelar a falcatrua, mas depois de um bocado... olha, se pagam os 200 dolares e porque podem, e porque nao lhes faz falta. Decerto que dao mais jeito aos nativos. Ate porque o minimo que deveriam fazer ao ir para o estrangeiro era verificar as taxas de cambio. Foram enganados, e bem enganados!

Na Guatemala a situacao e diferente. O pais (ainda) nao vive do turismo como o Mexico, embora comece a ter maior projeccao, e cerca de 70% da populacao (assim mo disseram, que nao o li em lado nenhum) e rural, vive da terra. Por isso mesmo quando tentam vender algo, perguntam uma vez, ao ouvirem a recusa vao-se embora, nao insistem ate a exaustao como no Mexico. Para alem do que ha muitissima menos gente a oferecer/tentar impingir algo. Nesse aspecto e muito mais simpatico.

Quanto a seguranca, posso fazer a distincao na medida em que no Mexico muita gente anda armada, mas nao se veem explicitamente as armas. Tirando quem anda a transportar valores ou a porta dos bancos que tem metralhadoras, de resto nao se ve grande coisa.
Na Guatemala a coisa e diferente. Para alem dos bancos, qualquer loja maiorzita tem um ou dois homens a porta de shot-gun na mao e um cinto com cartuxos. Tambem se ve muita gente na rua com coldres e pistola (tal como em Portugal se ve com a bolsa do telemovel) presos no cinto. Nos meios rurais, e desculpem este aparte, mas a verdade e que estive por alguns dias numa aldeia alheada do resto do pais, quase toda a gente anda de catana na mao. Alias, o Lonely Planet sugeria que, para incursoes nestes meios, especialmente a noite, se arranjasse uma catana apenas pelo efeito dissuasor - eu aceitei esse conselho. E engracado ver que ate de regiao em regiao as necessidades mudam e com isso as ferramentas tambem. Houve quem tivesse comprado uma catana ao pe de Flores, regiao mais de terras cultivadas, e em que as catanas sao mais pequenas. Eu arranjei a minha numa regiao de selva e por isso consideravelmente maior que a outra (o que, confesso, nao e muito vantajoso para guardar/transportar). Mais cedo ou mais tarde tenho que me ver livre dela... pode ser que ainda a consiga vender...

As casas tambem sao diferentes. Nos meios rurais sao quase todas fabricadas em madeira e com telhados de chapa de zinco ou de folhas de palmeira/coqueiro entrelacadas. Nas cidades sao de tijolo de cimento, na maior parte das vezes pintadas, mas sempre com grades nas janelas e nas portas, grandes cadeados e fortes travessas. O arame farpado tambem e presenca assidua.

Omnipresentes sao as Maras, palavra utilizada para designar os gangues. O seu metodo preferido de actuacao e a extorsao: tens uma venda, entao tens de me pagar uma "renda" semanal ou mensal. Se nao pagas, morres. Nao ha ca ameacas, nem enxertos de porrada, nem nada dessas paneleirices. Nao pagas, morres. Ha uma reputacao a manter. Alem disso tambem consta na linha de servicos assaltos, sequestros, assassinos contratados, e muito, muito narcotrafico. E assim que arranjam mais elementos: oferecem droga aos adolescentes, que ficam viciados, e depois sao iniciados no movimento... Por oposicao ha os esquadroes da morte, constituidos maioritariamente por ex-plicias e por ex-militares, que vao fazendo a limpeza do mal da sociedade, e que tem alguma impunidade por parte do poder politico porque, ao fim e ao cabo, sempre vao dando cabo de mais alguns membros das maras. No entanto as Maras estao mais concentradas para a populacao local, deixando os turistas de fora.

Mais coisas: os carros aqui tem, em media, mais de 15 anos. Ha muitos autocarros antigos americanos (school-bus, aqueles com uns 20 metros ou mais, amarelos ou vermelhos) a fazer de autocarro urbano, depois ha as toyotas hiace e similares e mini-buses a fazerem os percursos maiores, nacionais. Finalmente nos meios rurais existem as pick-ups ou ate mesmo as carrinhas de caixa aberta que, atulhadas de mercadorias e de pessoas (para o cobrador e tudo o mesmo e resumem-se na primeira palavra), param a um acenar do braco, e "cabe sempre mais um"...

As estradas que ligam as principais cidades estao asfaltadas, alias, estavam a asfaltar novamente um troco entre Coban e Antigua em que o antigo piso ainda estava (pelos padroes locais) perfeito, mas depois e possivel chegar a uma cidade e as ruas laterais serem todas em terra batida, ou ir para as aldeias e serem ainda piores: cobertas de lama com apenas alguns chuviscos e em que os aluimentos de terra sao frequentes.

De qualquer modo, no geral, considero os guatemaltecos honestos e sinceros. Um povo que espera um futuro melhor numa nacao em pleno desenvolvimento.

PS - Se quiserem que refira algo em particular ou que detalhe ainda mais algum dos temas anteriores, facam favor de pedir.

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