segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Locked up

Ainda não consegui perceber se a minha viagem está amaldiçoada ou abençoada, mas uma coisa é certa, se eu vinha à procura de experiencias novas e de emoção, acho que estou a ir pelo caminho certo.

Passo a explicar. Ontem à noite fomos a casa de um americano que mora aqui perto e que estava a fazer uma festa de despedida para uma belga que ia voltar para casa. O tema da festa era os 20’s, e aqui eles levam estas coisas dos temas mesmo muito a sério! Confesso que me pareceu um pouco estranho aquela festa, mas enfim, lá estivemos à conversa e a beber umas cervejas até às 4h da matina. Depois viemos para casa e deitámo-nos por volta das 5h. Como também veio cá dormir uma amiga da Sofia, elas ficaram as duas na sala, que tem um sofá que tem cama de casal e eu fiquei na cama da Sofia que é numa mezzanine (aqui as casas têm um pé direito de 5 metros), para onde se sobe por um normal escadote de pintar. De repente...

Acordo com um barulho forte e, ao levantar a cabeça, consigo-me aperceber de ver uma luz intermitente vermelha a reflectir no prédio em frente e só tenho tempo de pensar: “Já houve merda!” imediatamente a seguir aparece-me um capacete, uns óculos e uma shotgun com uma lanterna à frente e penso “Fodasse, ‘que é esta merda?” e soa logo um “Put your hands up!”. Perguntou-me onde é que era a luz, mas a mezzanine não a tem e eu lá lhe disse que não havia e que só lá tinha o meu frontal. Lá se deu por satisfeito e mandou-me descer a escada. Ainda lhe perguntei se podia vestir as calças, mas ele disse para eu ir mesmo assim. Desci, mandou-me virar de costas e algemou-me! É verdade, uma estreia absoluta. Depois levou-me, já algemado para a sala, onde as miúdas estavam de pé e mandaram-nos sentar aos três no sofá. Aí aparece um agente a perguntar-nos se nós tínhamos alguma coisa ilegal, se sabíamos de alguma actividade ilegal, que era melhor dizermos logo que nos facilitava a vida, que funcionava a nosso favor, etc, e nós nada, não sabemos de nada. Não há nada ilegal no apartamento.
Nisto aparece outro gigante, igual ao que me tinha algemado, com o outro colega de casa da Sofia, o Alan. Aí sim, consegui perceber perfeitamente que eram dos S.W.A.T. Os S.W.A.T.!!! Lindo!!! Então, como os S.W.A.T. já tinham “segurado” a casa toda, saíram e aí entraram em cena os investigadores propriamente ditos. Perguntámos o que é que se passava e lá nos disseram que estavam a fazer uma rusga no prédio inteiro à procura de droga. Pediram-nos a identificação (que tive de lhes dizer para irem buscar porque estava no bolso das calças que estavam na mezzanine) e perguntaram-nos à quanto tempo estávamos na casa. A Sofia disse que estava à 2 semanas, o gajo disse que então não tinha que estar preocupada porque a investigação já durava à muito mais tempo, depois a amiga da Sofia disse-lhes que tinha ficado a dormir apenas esta noite, que aquela casa não era a dela. Finalmente, eu disse-lhes que estava a visitar a Sofia e que estava no pais à apenas 4 dias. Aí ele riu-se, disse que não tinha nada com que me preocupar, que não era nada comigo e vá de nos sentar novamente no sofá. Entretanto entram e saem alguns agentes, entre os quais o capitão, e finalmente lá nos decidem soltar? Não! Isso era muito rápido. Decidem levar-nos para a esquadra. Lá me vão buscar as calças, vestem-mas (eu sempre algemado, elas não) e pedem-nos para calçarmos qualquer coisa que não tivesse atacadores, por isso lá fui eu de chinela no pé! Nesta altura algemaram também as miúdas e descemos todos pela escada, porque isto é um segundo andar, e entrámos numa carrinha da policia. Já lá estavam algumas pessoas que vim a saber depois que eram os vizinhos do primeiro andar e um casal que moravam na cave. Fomos todos para a esquadra, mas ainda deu para me rir um pouco. Os policias andavam perdidos, não sabiam o caminho para a esquadra local (porque os policias que nos transportaram não eram daquela esquadra), e nisto uns dos gajos que estava na carrinha começa a dar-lhes indicações. Pela risada que o policia deu, acho que pensou o mesmo que eu: que o outro conhecia bem o caminho para a esquadra, possivelmente porque já lá tinha estado algumas vezes.
Já na esquadra, fomos todos revistados e meteram-nos a todos numa cela (com uma divisória ao meio para homens/mulheres). E foi assim que se passou parte da manhã, à conversa na cela. Pelas conversas que surgiram apercebemo-nos que tanto os vizinhos do primeiro como os da cave eram culpadissímos de tudo, e se calhar até de mais algumas coisas. A parte também engraçada foi ver que um deles, que era o mais velho e devia ter uns 40, já depois de termos todos sido revistados, às tantas mete a mão às calças (eu estava sentado mesmo ao lado dele) e tira de lá um plástico, do plástico tira um papelinho e pronto, na esquadra da policia, dentro da cela pimba, toma lá uma sniffadela de coca! Hilariante!
Ainda lá ficámos algum tempo, se tiver em consideração que nos apareceram em casa às 6h e que saímos já depois das 10h. Mas ainda deu para ver os americanos a mandar vir com os policias, a perguntarem a que horas é que era o pequeno almoço, coisas do género... enfim. Eu estava descansadinho da vida, porque sabia que não tinha nada a ver com aquilo e tinha provas em como estava no país à apenas 4 dias. Para mim era esperar para ver no que dava, no entanto ainda me diverti com o velho carocho que era um frito, mas frito mesmo, era só buracos naquela cabeça. Adormecia, acordava, adormecia, acordava, lá tentava dizer alguma coisa que ninguém percebia, e quando lhe pediam para repetir a maior parte das vezes já ele estava a dormir outra vez. Enfim, um queimadinho! Vejam esta: estava ele a dormir sentado no banco, começa a inclinar para a frente, a inclinar, e a inclinar, e se não fosse levantar-se num ápice e dar 2 ou 3 passos em frente, tinha-se estatelado no chão! Assim, do nada, sozinho!
Por fim, já perto das 10h começaram a chamar-nos um a um e a retirar-nos da cela: o Alan e a namorada (que também cá estava a dormir e, como tal, também apanhou por tabela), o casal que morava na cave, depois a Sofia, a amiga dela e depois fui eu. Ficou apenas o casal do primeiro andar. Nisto perguntei ao guarda que me estava a soltar se os outros também iam ser libertados e ele disse logo que não.

Voltámos para casa e estava a mulher do rés-do-chão (que eu nunca tinha visto, e que deve ter uns 50 anos) à porta também à conversa, e estavam a sair os últimos inspectores. Perguntámos pela nossa identificação, que a tinham deixado em cima da mesa e depois eu pedi-lhes as chaves da casa de volta, que tinha deixado não fossem eles saírem antes de nós voltarmos e terem de trancar a porta. Uma vez que eu estava mais afastado a conversar com eles, à espera que me devolvessem a chave, ainda um deles desabafa comigo: encontrámos muita coisa neste prédio, se fosse a ti não ficava aí muito tempo. E depois foram-se embora.
Entretanto a do R/C estava a dizer que eles também tinham rebentado com a fechadura dela e que queriam que ela e a mãe também fossem para a esquadra. Ela inventou que estava a ter um ataque cardíaco e que tinha que ir para o hospital ou ficar em casa. Como aparentemente a mão também deve ser velha, e trôpega, eles lá as deixaram ficar às duas no apartamento. Disse apenas que tinham andado à procura debaixo dos colchões deles e nuns baús que ela lá tinha. Quando subimos as escadas é que foi: no segundo andar, parecia que tinha lá passado um furação. Tudo espalhado por todo o lado, inclusivamente no meio das escadas, roupa, ténis, cabides, esferovite, jornais, ... só tralha em todo o lado, ainda tivemos que fazer ginástica para tentar não pisar alguma coisa que se pudesse partir. Na nossa casa foram mais comedidos, revolveram um armário que está na sala, viram a roupa deles, a mim ainda me devem ter aberto a mochila e visto qualquer coisa, mas só por cima, a parte de baixo estava intacta, levantaram os colchões (ao contrário do primeiro onde os abriram todos à faca), enfim, também devem ter percebido que era pessoal jovem, e que não tínhamos nada a ver com a história e por isso formam mais brandos.

Portanto se tivermos em consideração que eles chegaram lá por volta das 6h e pouco, esta noite dormi pouco mais que 1h. Como sei que há algumas pessoas cépticas desse lado, vou enviar a foto da declaração que o policia nos passou para justificar o atraso, no emprego. Eu também fiquei com uma cópia, claro!
(To whom it may concearn
The holder of this letter was detained by the police from 6am until 10am on monday 10/27/08 at the 90pct. It was determined that no crime was commited by this person.)

Portanto se alguém vaticinou que eu, em qualquer altura desta viagem, ainda seria preso, ou detido para ser mais exacto, acertou!!! Mas pelo menos mais vale nos Estados Unidos do que num qualquer país da América Latina ou da Ásia.

Depois disso, e como não fazia sentido vir dormir e dar cabo do resto do dia, fui novamente para Manhattan.
(São duas e a da frente é baseada num Escalade - para quem sabe o que isso é)

Estive no cais onde se apanha o ferry para a Estátua da Liberdade.

Fui ao Ground Zero, que não tem piada nenhuma. Para mim, que nunca o conheci (pessoalmente) com as torres, é apenas um local de construção gigantesco, com imensa maquinaria e pessoas, mas com pouco interesse – a não ser para quem gosta de se emocionar a relembrar o dia, e as pessoas que morreram, e assim...

Finalmente, para acabar em beleza, fui subindo a Broadway, parando aqui e ali para Window Shopping, e fiz quase metade de Manhattan. Acreditem que me doem as pernas do que andei e do que não descansei na noite anterior.

Só para finalizar em beleza, e como este post já vai imensamente extenso, desde que cheguei a casa, às 18h mais ou menos, que, espaçadamente, se ouvia um miar forte. Mas já tínhamos corrido a casa toda e não tínhamos dado com nada. Mas os miaus persistiam. O problema é que dava um ou dois e depois parava, e depois só uns 15 ou 20 minutos depois se faziam ouvir novamente, não era fácil localizar de onde vinham. Como também já estava farto disto, e porque não estava doido (todos estávamos a ouvir o desgraçado do gato) lá fui fazer uma busca mais intensiva e não é que fui dar com o desgraçado atrás do móvel da televisão, todo enrolado nos cabos e entalado por umas ripas de madeira. O pior é que eu acho que ontem a noite quando estávamos para dormir já tinha ouvido um ou outro miar! Lol. Coitado do gato. Já lá devia estar há um bom bocado. Mas também não devia ter muita fome, caso contrário miava mais! Não é nosso, é da vizinha de baixo, fomos devolve-lo lá a casa, que entretanto estão lá os familiares a limpar o apartamento e a arrumar tudo.

E pronto foram as minhas aventuras de hoje, por isso vos disse que não sei se a viagem está amaldiçoada, ou se está abençoada, porque estão a acontecer estas coisas todas num país como os EUA.

Já agora, para recordar:
Primeiro foi a questão da emigração;
Segundo foi ter visto um gajo morto. Sei que não tinha incluído num post. Foi logo no segundo dia, estava a atravessar Chinatown e de repente vejo uma barreira policial. À distância lá consigo ver um par de sapatos e um lençol branco sobre um volume. Tinha sido o gajo que ao sair do monovolume dele, para o lado da estrada, foi apanhado por um camião. À boa maneira Tuga peguei logo na máquina e vá de sacar uma bela foto!
(se fizerem zoom debaixo da porta do carro do polícia conseguem ver os sapatos e o lençol)

Terceiro, foi agora. Ser acordado a meio da noite por um SWAT, com uma arma apontada à cara e passar uma horas detido na cadeia.

Isto é Nova York. Se tem de acontecer, acontece mesmo e aqui, acontece de tudo.

Alguém quer fazer apostas para a próxima emoção forte?

domingo, 26 de outubro de 2008

Sentimentos...

Até agora tenho-me cingido por uma escrita mais racional e factual. Há no entanto um tema que, numa viagem como esta, não pode ser esquecido: sentimentos, emoções.
A verdade é que não é fácil sair assim de casa, da nossa zona de conforto, em que controlamos o nosso dia a dia e em que mergulhamos numa rotina mais ou menos definida, para abraçarmos um projecto deste género, um ano na estrada, sem saber exactamente onde.
Os últimos dias antes da viagem foram vividos num impasse: por um lado pensava em tudo o que deixava para trás, família, namorada, amigos, trabalho, a segurança do lar; mas por outro, para me animar e dar força, fazia por pensar no que ia ver, nas pessoas que ia conhecer, no esforço que tinha feito para a concretização deste projecto. A verdade é que, agora que cá estou, parece-me tudo muito mais fácil, se calhar também porque estou em casa de uma amiga, o que significa algum nível de conforto, segurança e confiança, saber que se me acontecer alguma coisa, facilmente consigo obter ajuda.
Na semana que antecedeu a minha partida visitei os membros da família mais chegados, tentei passar algum tempo de qualidade com a miúda e fiz um jantar de despedida com os amigos e, durante estes períodos, houve momentos muito emotivos, em que um olhar ou um gesto facilmente substituíram as palavras. Momentos eventualmente tristes, mas verdadeiros.

E pronto, vamos a terminar com este discurso lamechas (isto sou eu a fazer-me de durão) e voltamos aos factos.

New York.
Espectacular!
Já dei algumas voltas pela cidade, principalmente por Manhattan. Como é uma cidade plana e está realmente organizada segundo uma esquadria, é muito simpática para se andar a pé. Já fiz uns kms valentes.
Grande parte da cidade tem prédios bastante antigos, mas bem giros: muitos em tijolo maciço, com as escadas de incêndio em metal. Uma característica que consegui constatar é que, por serem velhas, as casas já não são muito certas o chão dos apartamentos e as escadas são inclinados. Mas também, o que esperar de casas com 200 ou 300 anos?


Também reparei que, devido ao tamanho dos prédios, Manhattan é um pouco escura, o sol não entra muito na cidade. Em Williamsburg, onde estou, os prédios são mais baixos, entre os 3 e os 4 andares, o que faz com que seja mais soalheiro. Também as ruas são um pouco mais largas aqui. Williamsburg é uma zona residencial dentro de Brooklyn. É só atravessar a ponte e estou em Manhattan. É um bairro que começa agora a ficar na moda entre os Nova Yorkinos e, como tal, os preços das rendas estão a começar a subir. No entanto, tudo o que uma pessoa necessita no dia-a-dia, está aqui perto. É um bairro muito porreiro.
Quanto ao andar na rua, embora 90% da população utilize street wear, não é por isso que são marginais. Apenas pessoas práticas. Aliás, como tem tanta gente de tanto lugar diferente e com culturas diversas, o espírito predominante é muito liberal, sem julgamento de imagens ou carácter (prova disso é a quantidade de meias brancas que se vêem em toda a gente).

Câmara da cidade
Supremo tribunal

Central Park - numa das partes do parque, que é gigante, estava a decorrer um concurso de abóboras esculpidas para angariação de fundos para uma instituição de ajuda a crianças com doenças terminais.

MOMA (Museum Of Modern Art) que, às sextas feiras, entre as 4 e as 8 é gratuito.

Ruas da cidade - por vezes fecham determinada rua para fazerem feiras. Já estive em duas: uma era com comes e bebes, colares, pulseiras e roupa barata, quase como se fosse a feira da ladra, e com uma banda de jazz muito interessante; a outra era quase só de produtos agrícolas (muitos de origem biologica).




Quanto a mim, já me consigo orientar perfeitamente no metro a apanhar as linhas e direcções correctas, e até consigo apanhar metros expresso (que não param em todas as paragens). Também para telefonar duma cabine telefónica o estranho é ter que marcar sempre o 1 do indicativo internacional. É como ligar para alguém em Portugal e ter de começar a ligação com o 351 + número. Ainda não é para agora, mas do que vi, é uma cidade em que me parece que eu era capaz de viver. Embora uma abordagem inicial seja difícil, as pessoas são bastante simpáticas. Por duas ou três vezes estava eu na rua com o mapa aberto e vieram perguntar-me se precisava de ajuda para me orientar. Mesmo sem eu ter perguntado nada.

Quanto ao tempo, tem estado o céu limpo. Só ontem é que choveu e por isso fomos para casa de um amigo ver filmes: só assim por acaso tem um projector na sala, o que faz com que tenha uma televisão de +- 2 metros de diagonal. Ah, esquecia-me, tem também um sistema semelhante ao MEO (com TV cabo, Internet, Video on Demand e telefone) a diferença é que tem uns 2000 canais(!!!), o video on demand é gratuito, o disco rigido do sistema tem 300Gb e este tipo de serviço já existe a mais de 5 anos. É apenas o lag que Portugal têm... (apenas como curiosidade, para quem quiser saber, ele paga 150 dólares por mês).

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Controlo de emigração - quem precisa dele?

O que melhor para começar uma viagem à volta do mundo do que ficar em casa??? Era o que quase me ia acontecendo. Confundidos? Passo a explicar. Quinta-feira, de manhãzinha, lá vou eu todo contente até ao aeroporto para apanhar o avião. Quando chego ao check-in, ainda antes de entregar a mochila (e a minha casa para o próximo ano), uma senhora simpática pede-me o passaporte e começa a fazer-me algumas perguntas. Para onde vou, quanto tempo... e eis que chega a uma que (...) deu barraca!:
-Então e bilhete de saída, tem?
-Bilhete de saída? Não, vou sair pela fronteira terrestre através do México.
-Ah, ok, então não há problema. Então e bilhete de saída do México?
- Bilhete de saída do México? Também não, vou seguir sempre por terra em direcção à Guatemala ou ao Belize.
E foi aqui que a coisa se começou a complicar:
-Isso é que não pode ser. Para o deixar embarcar precisa de ter um bilhete de saída dos EUA ou de qualquer país adjacente (leia-se México, Canadá ou Bahamas).
-Não tenho. Vou dar uma volta ao mundo maioritariamente em autocarro e comboio, por isso não tenho bilhete de saída. Então e agora?
Bem, gerou-se a confusão! Porque sem bilhete eu chegava aos EUA e deportavam-me e como tal eu pagava uma multa e a companhia de aviação também. Como bom português que sou disponibilizei-me logo para ir a correr reservar um bilhete através da net e imprimir o comprovativo (que é a unica coisa que eles precisam). Mas se eu fosse fazer isso o check-in encerrava e eu já não embarcava. Supervisor ao barulho, muita dúvida e muita conversa e ele lá me deixou fazer o check-in, colocando uma restrição à bagagem cujo embarque ficava bloqueado até ele dizer. Entretanto depois disso fomos à procura de um acesso à net para, à frente dele, reservar um bilhete, lhe mostrar a impressão e para ele desbloquear a bagagem. Enfim, um filme só para me meterem no avião!
Ainda me hão-de explicar o porquê dos EUA terem de saber e dominar tudo. Porque razão não poderia eu seguir até à Guatemala sempre por estrada. Quando cheguei a casa contei o episódio aos americanos que cá moram e nem eles acreditavam. Que era uma estupidez e que os EUA não tinham o direito de fazer isso.
Ao chegar ao lado de cá do oceano, imigração. Tudo muito bem, passaporte, impressão digital (indicador esquerdo, indicador direito), fotografia, até que começa a conversa:
-Quanto tempo cá vai ficar?
-1 mês
-A que se deve a sua visita?
-Venho visitar uma amiga.
-Então e o que é que faz?
-Trabalho numa empresa de consultoria. A Deloitte.
-Não conheço.
-É americana acrescento eu.
-Presumo que tenha bilhete de volta?
-Tenho.
-Posso ver?
-Claro - mostro-lhe o bilhete.
-Se bem estou a perceber aqui diz que volta no dia 24 de Dezembro (o dia para que tinha comprado o bilhete). Isso são dois meses.
-Sim, mas aí também diz que eu vou sair da Cidade do México. Vou estar nos EUA um mês, o outro é para andar no México.
-Ah. Estou a ver. Então o seu patrão deu-lhe 2 meses de férias?
Confesso que aí começei a sentir as pernas a tremer, já me estava a ver recambiado para casa e a ser o feliz protagonista da volta ao mundo mais rápida da história!
-Sim, deu.
-2 meses?
-Sim!
-Hum, - não muito convencido - está bem. Então e quantos volumes de bagagem é que trás?
E eu: -Um.
-Então para dois meses trás apenas 1 mala?
Desculpa à pressão: -Tenho que viajar leve porque vamos até ao México de autocarro e por isso não posso ir muito carregado.
Bem, lá me mandou um outro "Estou a ver". Ainda me desejou boa sorte, devolveu-me o passaporte e lá me deixou seguir caminho.
Mas que grande UFF que eu mandei quando saí dali.
Depois foi tranquilo: apanhar um autocarro para o centro da cidade (15$), sair na Port Authority, e descer a pé pela Broadway até à 28th, onde liguei à minha anfitreã para me ir buscar.
Comprei um passe de 7 dias para o metro (25$) e vim deixar as coisas a casa Williamsburg - Brooklin. Muito giro. Entro no metro em Manhattan em que é só prédios altos saio do outro lado onde é só prédios de 2, 3 ou 4 andares, ruas mais espaçosas e onde o sol ainda entrava.
Já demos uma voltinha aqui no bairro para eu me ambientar e ver se consigo dar com a casa sozinho. Parece-me uma zona muito boa. Muito perto de Manhattan (atravessar a Brooklyn Bridge) e muito calma. Já tive oportunidade de ver o skyline de Manhattan iluminado à noite deste lado do rio. Muito bom! É como ter um ecrãn panorâmico, um IMAX gigante mesmo à nossa frente.

Hoje como foi só para dar uma voltinha de habituação ainda não levei a máquina, mas por estes dias corrijo essa situação.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Partida

Eis que se aproxima o grande dia. Para quem não está ao corrente dos últimos desenvolvimentos, saio amanhã, dia 23, quinta-feira. Vou pela Continental Airlines (que curiosamente já me informaram que era um pouco má) e vou directo de Lisboa para New Jersey. A viagem há-de começar por Nova York, tal como tinha mencionado.

Entretanto nos últimos tempo tive bastante entretido a acabar os ultimos pormenores, a despedir-me da familia e de amigos, a passar algum tempo de qualidade com a namorada, já tomei as últimas vacinas. O facto de ter um acesso à Net algo limitado também não ajudou para arranjar vontade de vir escrever...

A mochila, ainda está por terminar... sempre a ultima coisa a ficar despachada. No entanto, como já espalhei tudo em cima da cama (para me obrigar a arrumá-la se me quiser deitar esta noite) já deu para ver que não levo muito. Devo ir relativamente leve. Melhor assim: é mais fácil se faltar alguma coisa comprar pelo caminho (até porque roupa e gear são mais baratos nos EUA) do que ir carregado com coisas a mais e depois não me querer desfazer delas ou estar a pagar mais para enviá-las por correio.

Até agora estou habituado a ir à praia e a fixar o horizonte a oeste à procura de terra. Agora irei fixar a este. Ontem via o pôr do sol, amanhã vejo-o a nascer. Como será que os americanos fazem? Não podem utilizar a mnenónica do Oeste (O – Oceano) e Este (E - Espanha).

Já só faltam umas horitas...

Até jááááá.....

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Procuração

Ontem fui novamente às vacinas. Quando cheguei lá, estava uma senhora a tomar a vacina da Gripe. Aparentemente, o pessoal do Hospital tem direito à mesma, pelo que havia uma grande listagem de pessoas que, supostamente, deveriam ir tomar a dolorosa. Quanto a mim, supostamente, tinha que tomar a segunda dose da Encefalite da Carraça e a da Raiva, mas como o enfermeiro de serviço estava bem disposto, e já que estava com a mão na massa, virou-se para mim e diz: “tomas também a da gripe, é mais uma fica…”. Confesso que com tudo o que já ouvi dizer desta vacina torci o nariz, e ainda tentei argumentar: “é mesmo necessário? Aparentemente toda a gente que toma essa vacina, passado uns dias, apanha uma gripe que tem de passar uma semana ou duas na cama.” Resposta: “é verdade, mas apanhas na mesma. Mal não faz!” Ah, pois, quer dizer… mal não faz, mas ficar uma ou duas semanitas de cama é mesmo o que me está a apetecer com mais força!!!

Bem, no fim lá me deu as três vacinas, ainda mandei aquela piada do “um dia destes se alguém me puxa o braço ele sai pelo picotado”, ah ah ah... check please.

Hoje fui ao notário escrever uma procuração para o meu pai. Para quê? Então, para lhe dar alguns direitos que possam ser necessários exercer aquando da minha ausência:
- movimentação (a débito e a crédito) de contas nos bancos;
- solicitar a emissão e cancelamento de cartões de débito ou de crédito e requisitar passwords online;
- aquisição, gestão e venda de valores mobiliários (acções, participações em fundos de investimentos, certificados de aforro, …);
- representação junto de repartições publicas ou administrativas (isto é para as Finanças e para a Segurança Social);
- representação junto de companhias de seguros e mediadoras, serviços postais ou empresas de transportes de bens e valores (CTT, FedEx, UPS, …), assinando avisos de recepção e documentos postais e levantando valores, encomendas ou correspondência;
- representação em juízo e poder para substabelecer a procuração num advogado ou num, procurador habilitado.

Para as minhas posses e responsabilidades, penso que seja o suficiente. Dá para pedir cartões de crédito e/ou débito caso os meus sejam roubados, dá para movimentar as massas caso eu não o consiga fazer, e dá para ser representante fiscal nas finanças (alguém tem de submeter o meu IRS, certo?).

Claro que se eu tivesse uma casa ou veículos em meu nome poderia dar poderes para arrendar ou vender ou o que quer que seja. Se tivesse participações (quotas) em alguma empresa poderia ceder os meus direitos, nomeadamente o de representação em assembleias legais, mas como não tenho nada disso, não fazia sentido incluir.

E é assim que vou entretendo os meus dias: a arrumar papeis, a comprar uma ou outra coisa que esteja em falta, enfim, a finalizar os preparativos…

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Desempregado...

Pois é. Desde 3ª feira que estou oficialmente no desemprego. Não por força da conjuntura económica – o grande papão que anda a assustar toda a gente – mas, pasme-se, por livre e espontânea vontade!!!

Não foi fácil, ter de arrumar todas as tralhas e despedir-me das pessoas. E depois é um sentimento estranho, não é como ir de férias em que se arruma minimamente a secretária para não incomodar ninguém e para ninguém nos mexer nas coisas, é arrumar mesmo tudo! E pensar: então e amanhã o que é que eu faço? Já não preciso de me levantar às 7h45… é estranho, foram 3 anos da minha vida a ver (quase) diariamente as mesmas pessoas e que agora vão-se eclipsar (praticamente todas).

Continuando. Estou a pensar sair ainda antes do fim do mês e preciso de tempo para organizar os últimos pormenores: idas aos bancos por causa dos cartões de crédito, idas aos notários para procurações, ir às finanças…and so on and so on.

Dito isto, 3ª foi ainda dia de mais duas vacinas, desta vez comecei as primeiras doses da Raiva e da Encefalite da Carraça (que também são 3 doses, no total). Já são as últimas que faltam tomar! Quando acabar quase que me arrancam o braço pelo picotado!

Hoje fui confirmar que o meu passaporte é de leitura óptica e, como tal, dispensa visto para a entrada nos EUA – todos os que foram emitidos depois de Janeiro de 2001 são de leitura óptica, como os passaportes portugueses têm uma validade de 5 anos, não deve haver ninguém que não tenha um destes, certo?

Aproveitei e fui pedir uma simulação para um seguro de viagens a uma mediadora onde me disseram que o período máximo que a seguradora envolvida (eu fui a uma mediadora, lembram-se?) dava de cobertura era de 60 dias. Entretanto liga para um, liga para outro e informaram a “menina” (esta é à Porto) que me estava a atender de que a Grupama fazia seguros deste tipo. Deixei lá bastante informação e estou à espera da simulação. De qualquer modo, na conversa com a “menina” esta estimou que não ficasse por menos de 1.500€ por um período de um ano e que, mesmo assim, poderia não cobrir todos os países.

Acho que vou mesmo optar pelo seguro da World Nomads (www.worldnomads.com) afinal de contas, é recomendada pela Lonely Planet e, para um seguro mundial, com excepção de Portugal, cobram 640€. Alguém sabe de outra oferta melhor? Aceitam-se propostas…

Entretanto como me desempreguei fiquei também sem PC, pelo que o acesso à net agora encontra-se condicionado pelas almas caridosas que me emprestam um. No fim-de-semana já deve vir o portátil e então já se torna mais fácil.

Não se esqueçam de ir comentando os posts.