segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Locked up

Ainda não consegui perceber se a minha viagem está amaldiçoada ou abençoada, mas uma coisa é certa, se eu vinha à procura de experiencias novas e de emoção, acho que estou a ir pelo caminho certo.

Passo a explicar. Ontem à noite fomos a casa de um americano que mora aqui perto e que estava a fazer uma festa de despedida para uma belga que ia voltar para casa. O tema da festa era os 20’s, e aqui eles levam estas coisas dos temas mesmo muito a sério! Confesso que me pareceu um pouco estranho aquela festa, mas enfim, lá estivemos à conversa e a beber umas cervejas até às 4h da matina. Depois viemos para casa e deitámo-nos por volta das 5h. Como também veio cá dormir uma amiga da Sofia, elas ficaram as duas na sala, que tem um sofá que tem cama de casal e eu fiquei na cama da Sofia que é numa mezzanine (aqui as casas têm um pé direito de 5 metros), para onde se sobe por um normal escadote de pintar. De repente...

Acordo com um barulho forte e, ao levantar a cabeça, consigo-me aperceber de ver uma luz intermitente vermelha a reflectir no prédio em frente e só tenho tempo de pensar: “Já houve merda!” imediatamente a seguir aparece-me um capacete, uns óculos e uma shotgun com uma lanterna à frente e penso “Fodasse, ‘que é esta merda?” e soa logo um “Put your hands up!”. Perguntou-me onde é que era a luz, mas a mezzanine não a tem e eu lá lhe disse que não havia e que só lá tinha o meu frontal. Lá se deu por satisfeito e mandou-me descer a escada. Ainda lhe perguntei se podia vestir as calças, mas ele disse para eu ir mesmo assim. Desci, mandou-me virar de costas e algemou-me! É verdade, uma estreia absoluta. Depois levou-me, já algemado para a sala, onde as miúdas estavam de pé e mandaram-nos sentar aos três no sofá. Aí aparece um agente a perguntar-nos se nós tínhamos alguma coisa ilegal, se sabíamos de alguma actividade ilegal, que era melhor dizermos logo que nos facilitava a vida, que funcionava a nosso favor, etc, e nós nada, não sabemos de nada. Não há nada ilegal no apartamento.
Nisto aparece outro gigante, igual ao que me tinha algemado, com o outro colega de casa da Sofia, o Alan. Aí sim, consegui perceber perfeitamente que eram dos S.W.A.T. Os S.W.A.T.!!! Lindo!!! Então, como os S.W.A.T. já tinham “segurado” a casa toda, saíram e aí entraram em cena os investigadores propriamente ditos. Perguntámos o que é que se passava e lá nos disseram que estavam a fazer uma rusga no prédio inteiro à procura de droga. Pediram-nos a identificação (que tive de lhes dizer para irem buscar porque estava no bolso das calças que estavam na mezzanine) e perguntaram-nos à quanto tempo estávamos na casa. A Sofia disse que estava à 2 semanas, o gajo disse que então não tinha que estar preocupada porque a investigação já durava à muito mais tempo, depois a amiga da Sofia disse-lhes que tinha ficado a dormir apenas esta noite, que aquela casa não era a dela. Finalmente, eu disse-lhes que estava a visitar a Sofia e que estava no pais à apenas 4 dias. Aí ele riu-se, disse que não tinha nada com que me preocupar, que não era nada comigo e vá de nos sentar novamente no sofá. Entretanto entram e saem alguns agentes, entre os quais o capitão, e finalmente lá nos decidem soltar? Não! Isso era muito rápido. Decidem levar-nos para a esquadra. Lá me vão buscar as calças, vestem-mas (eu sempre algemado, elas não) e pedem-nos para calçarmos qualquer coisa que não tivesse atacadores, por isso lá fui eu de chinela no pé! Nesta altura algemaram também as miúdas e descemos todos pela escada, porque isto é um segundo andar, e entrámos numa carrinha da policia. Já lá estavam algumas pessoas que vim a saber depois que eram os vizinhos do primeiro andar e um casal que moravam na cave. Fomos todos para a esquadra, mas ainda deu para me rir um pouco. Os policias andavam perdidos, não sabiam o caminho para a esquadra local (porque os policias que nos transportaram não eram daquela esquadra), e nisto uns dos gajos que estava na carrinha começa a dar-lhes indicações. Pela risada que o policia deu, acho que pensou o mesmo que eu: que o outro conhecia bem o caminho para a esquadra, possivelmente porque já lá tinha estado algumas vezes.
Já na esquadra, fomos todos revistados e meteram-nos a todos numa cela (com uma divisória ao meio para homens/mulheres). E foi assim que se passou parte da manhã, à conversa na cela. Pelas conversas que surgiram apercebemo-nos que tanto os vizinhos do primeiro como os da cave eram culpadissímos de tudo, e se calhar até de mais algumas coisas. A parte também engraçada foi ver que um deles, que era o mais velho e devia ter uns 40, já depois de termos todos sido revistados, às tantas mete a mão às calças (eu estava sentado mesmo ao lado dele) e tira de lá um plástico, do plástico tira um papelinho e pronto, na esquadra da policia, dentro da cela pimba, toma lá uma sniffadela de coca! Hilariante!
Ainda lá ficámos algum tempo, se tiver em consideração que nos apareceram em casa às 6h e que saímos já depois das 10h. Mas ainda deu para ver os americanos a mandar vir com os policias, a perguntarem a que horas é que era o pequeno almoço, coisas do género... enfim. Eu estava descansadinho da vida, porque sabia que não tinha nada a ver com aquilo e tinha provas em como estava no país à apenas 4 dias. Para mim era esperar para ver no que dava, no entanto ainda me diverti com o velho carocho que era um frito, mas frito mesmo, era só buracos naquela cabeça. Adormecia, acordava, adormecia, acordava, lá tentava dizer alguma coisa que ninguém percebia, e quando lhe pediam para repetir a maior parte das vezes já ele estava a dormir outra vez. Enfim, um queimadinho! Vejam esta: estava ele a dormir sentado no banco, começa a inclinar para a frente, a inclinar, e a inclinar, e se não fosse levantar-se num ápice e dar 2 ou 3 passos em frente, tinha-se estatelado no chão! Assim, do nada, sozinho!
Por fim, já perto das 10h começaram a chamar-nos um a um e a retirar-nos da cela: o Alan e a namorada (que também cá estava a dormir e, como tal, também apanhou por tabela), o casal que morava na cave, depois a Sofia, a amiga dela e depois fui eu. Ficou apenas o casal do primeiro andar. Nisto perguntei ao guarda que me estava a soltar se os outros também iam ser libertados e ele disse logo que não.

Voltámos para casa e estava a mulher do rés-do-chão (que eu nunca tinha visto, e que deve ter uns 50 anos) à porta também à conversa, e estavam a sair os últimos inspectores. Perguntámos pela nossa identificação, que a tinham deixado em cima da mesa e depois eu pedi-lhes as chaves da casa de volta, que tinha deixado não fossem eles saírem antes de nós voltarmos e terem de trancar a porta. Uma vez que eu estava mais afastado a conversar com eles, à espera que me devolvessem a chave, ainda um deles desabafa comigo: encontrámos muita coisa neste prédio, se fosse a ti não ficava aí muito tempo. E depois foram-se embora.
Entretanto a do R/C estava a dizer que eles também tinham rebentado com a fechadura dela e que queriam que ela e a mãe também fossem para a esquadra. Ela inventou que estava a ter um ataque cardíaco e que tinha que ir para o hospital ou ficar em casa. Como aparentemente a mão também deve ser velha, e trôpega, eles lá as deixaram ficar às duas no apartamento. Disse apenas que tinham andado à procura debaixo dos colchões deles e nuns baús que ela lá tinha. Quando subimos as escadas é que foi: no segundo andar, parecia que tinha lá passado um furação. Tudo espalhado por todo o lado, inclusivamente no meio das escadas, roupa, ténis, cabides, esferovite, jornais, ... só tralha em todo o lado, ainda tivemos que fazer ginástica para tentar não pisar alguma coisa que se pudesse partir. Na nossa casa foram mais comedidos, revolveram um armário que está na sala, viram a roupa deles, a mim ainda me devem ter aberto a mochila e visto qualquer coisa, mas só por cima, a parte de baixo estava intacta, levantaram os colchões (ao contrário do primeiro onde os abriram todos à faca), enfim, também devem ter percebido que era pessoal jovem, e que não tínhamos nada a ver com a história e por isso formam mais brandos.

Portanto se tivermos em consideração que eles chegaram lá por volta das 6h e pouco, esta noite dormi pouco mais que 1h. Como sei que há algumas pessoas cépticas desse lado, vou enviar a foto da declaração que o policia nos passou para justificar o atraso, no emprego. Eu também fiquei com uma cópia, claro!
(To whom it may concearn
The holder of this letter was detained by the police from 6am until 10am on monday 10/27/08 at the 90pct. It was determined that no crime was commited by this person.)

Portanto se alguém vaticinou que eu, em qualquer altura desta viagem, ainda seria preso, ou detido para ser mais exacto, acertou!!! Mas pelo menos mais vale nos Estados Unidos do que num qualquer país da América Latina ou da Ásia.

Depois disso, e como não fazia sentido vir dormir e dar cabo do resto do dia, fui novamente para Manhattan.
(São duas e a da frente é baseada num Escalade - para quem sabe o que isso é)

Estive no cais onde se apanha o ferry para a Estátua da Liberdade.

Fui ao Ground Zero, que não tem piada nenhuma. Para mim, que nunca o conheci (pessoalmente) com as torres, é apenas um local de construção gigantesco, com imensa maquinaria e pessoas, mas com pouco interesse – a não ser para quem gosta de se emocionar a relembrar o dia, e as pessoas que morreram, e assim...

Finalmente, para acabar em beleza, fui subindo a Broadway, parando aqui e ali para Window Shopping, e fiz quase metade de Manhattan. Acreditem que me doem as pernas do que andei e do que não descansei na noite anterior.

Só para finalizar em beleza, e como este post já vai imensamente extenso, desde que cheguei a casa, às 18h mais ou menos, que, espaçadamente, se ouvia um miar forte. Mas já tínhamos corrido a casa toda e não tínhamos dado com nada. Mas os miaus persistiam. O problema é que dava um ou dois e depois parava, e depois só uns 15 ou 20 minutos depois se faziam ouvir novamente, não era fácil localizar de onde vinham. Como também já estava farto disto, e porque não estava doido (todos estávamos a ouvir o desgraçado do gato) lá fui fazer uma busca mais intensiva e não é que fui dar com o desgraçado atrás do móvel da televisão, todo enrolado nos cabos e entalado por umas ripas de madeira. O pior é que eu acho que ontem a noite quando estávamos para dormir já tinha ouvido um ou outro miar! Lol. Coitado do gato. Já lá devia estar há um bom bocado. Mas também não devia ter muita fome, caso contrário miava mais! Não é nosso, é da vizinha de baixo, fomos devolve-lo lá a casa, que entretanto estão lá os familiares a limpar o apartamento e a arrumar tudo.

E pronto foram as minhas aventuras de hoje, por isso vos disse que não sei se a viagem está amaldiçoada, ou se está abençoada, porque estão a acontecer estas coisas todas num país como os EUA.

Já agora, para recordar:
Primeiro foi a questão da emigração;
Segundo foi ter visto um gajo morto. Sei que não tinha incluído num post. Foi logo no segundo dia, estava a atravessar Chinatown e de repente vejo uma barreira policial. À distância lá consigo ver um par de sapatos e um lençol branco sobre um volume. Tinha sido o gajo que ao sair do monovolume dele, para o lado da estrada, foi apanhado por um camião. À boa maneira Tuga peguei logo na máquina e vá de sacar uma bela foto!
(se fizerem zoom debaixo da porta do carro do polícia conseguem ver os sapatos e o lençol)

Terceiro, foi agora. Ser acordado a meio da noite por um SWAT, com uma arma apontada à cara e passar uma horas detido na cadeia.

Isto é Nova York. Se tem de acontecer, acontece mesmo e aqui, acontece de tudo.

Alguém quer fazer apostas para a próxima emoção forte?

9 comentários:

  1. Eu n posso acreditar q n tenhas feito trinta por uma linha depois de uma cena dessas!?!?!??! Eu estou aqui sentadinha no meu gabinete em frente ao computador e n tens ideia da revolta q uma cena destas me da!?!?!
    Passo-me! A serio! quem sao estes gajos!? Como e q podem fazer o q for?! Juro-te... q raiva!

    Curte

    Dalila
    PS. por este tipo de merdas q os USA n me atraem mesmo nada! Parece um abuso de tudo!

    ResponderEliminar
  2. És tão mentiroso! Até acredito que tenhas levado com aquilo da emigração, do morto e da SWAT... mas ocultares da sudomização de que foste alvo na cela pelo nigga de 2 metros.. fica-te mal! E até aposto que tiraste fotos ao espelho enquanto acontecia.. todo sorridente!

    Enfim... não devias ter tanta vergonha!

    TBz

    ResponderEliminar
  3. Mais!! Devias era ter sido "tratado" como a Leonor Cipriano até admitires que metade da droga dos vizinhos tinhas sido tu a trazer de Portugal via Marrocos! Tens tanta sorte...!

    TBz

    ResponderEliminar
  4. Ahuuuuu!
    Só não percebo porque não usaste o fio de sisal...LOL
    Já estive nos EUA várias vezes, nas quais se incluem 2 em NY 2. Nunca tive nenhum filme destes!!! (Graças a Deus)
    Se te acontecem coisas destas nos EUA nem quero imaginar quando começares a passar fronteiras via terrestre na américa latina...Ficas lá de vez. Detido!lol.
    Agora a sério, mta atenção se tens os carimbos de entrada e de saída!!! SEMPRE!!!

    Bj

    ResponderEliminar
  5. Eu também desconfio que é tudo treta...chegaste ao teu blogg e pensaste.."bem, hoje nao tenho nada para escrever..a vida aqui é uma monotonia...E que tal se eu inventasse uma historia?? Qualquer coisa mirabulante com a S.W.A.T e drogas e rusgas e coisas emocionantes?? É isso, boa!...e pronto, surgiu toda esta historia...mas kiko, fica-te mal mentires...basta contares aquelas coisas corriqueiras do dia-a-dia que nós nao nos importamos =)

    Beijocas!
    Marta

    ResponderEliminar
  6. Mónica...não tenho culpa de nada...é o mundo...no meu mundo tudo pode acontecer...mas eu tenho tomado bem conta do kiko...isto das swats nao estava previsto. beijooooooooooooooooo

    ResponderEliminar
  7. Como podem comprovar pelo ultimo post, nao e invencao. Nao preciso disso. A minha vida e suficientemente interessante para eu nao precisar de inventar "cenas"!

    ResponderEliminar
  8. Maluco!! Desculpa so aparecer por aqui agora!! Antes d mais a minha Sofia vai apanhar na cabeça!! Sim, pq sei as coisas por ti!! Se tu estas ai ha dias, imagino o que essa doida já passou!!
    Aninhas, sempre vens ca no Natal?? Eu tenho msmo d ir p aí tomar conta d ti, isto assim nao pode ser!!
    Olha que dois que se foram juntar!! Doidos!! :)))
    O que vale é que agora venho sempre aqui ver as novidades! :))

    Beijao grande p os dois malucos!! Juizo, ainda so estas no inicio! :)

    ResponderEliminar
  9. Brutal....

    Vou viver para New York City daki a alguns dias, achas k dá para ir morar para nesse prédio?

    Abraço

    ResponderEliminar