sábado, 14 de fevereiro de 2009

Corrida contra o tempo

So para terem uma ideia da complexidade que e viajar nestes paises: o tempo, o esforco, os precalcos, a incerteza... faz tudo parte da viajem.

2ª feira dia 9 de Fevereiro
Chegado a Yurimaguas, tinha os meu dias bem contados para ir ver as ruinas de Kuelap e estar em Lima na sexta-feira, ou sabado o mais tardar, por isso nao havia tempo a perder.
De Yurimaguas apanhei um autocarro com destino a Tarapoto. Logo ai primeiro contratempo: a estrada esta em obras e por isso esta fechada entre as 8h e as 18h. Por isso, embora chegue a Yurimaguas as 12h (a hora prevista era as 5h ou 6h da manha, mas com avarias e tudo...) tive que esperar ate as 16h para podermos arrancar. Mesmo assim ainda estivemos um bom bocado parados a espera das 18h para podermos avancar. Depois disso chegamos a Tarapoto cerca das 20h e ja nao havia autocarros para Chachapoyas, a proxima paragem, por isso tive que ficar ai a dormir. Antes disso, fui perguntar a que horas havia autocarros para Pedro Ruiz (porque de Tarapoto nao ha directos para Chachapoyas, e necessario mudar em Pedro Ruiz) e comeca a festa. Uns dizem que ha a todas as horas, outros dizem que nao. E depois os horarios tambem divergem, uns dizem 5h da manha, outros as 7h, outros as 8h, e por ai fora abrangendo os horarios das 12h, 13h, 14h, 16h, 18h, 20h e 23h. Bem, isto ja nao me interessava para nada. Eu queria ir bem cedo. Como tambem ninguem me sabia dar a certeza de a que horas e que havia autocarros so havia uma solucao: acordar “muy temprano” e ir para a rua das agencias de camionagem perguntar horarios e ver disponibilidades.

3ª feira dia 10 de Fevereiro
Acordo as 6h e antes das 7h ja la estava, infelizmente e mais um dia em que amanhece a chover (e com forca!). Vejo apenas entre duas das maiores agencias que ficavam lado a lado, e entro num autocarro que estava de partida. Mesmo assim o ve de um lado, compara com o outro, tenta negociar no primeiro, tenta rebater no segundo e quando entrei no autocarro ja ia a escorrer agua. Mas muito bem, ja estou dentro do autocarro e la vou eu em direccao a Pedro Ruiz.
Chegado a Pedro Ruiz, por volta das 15h ha que sair do autocarro e ir para um taxi colectivo. Exacto, em vez de chamarem um taxi e de so la irem dentro voces e o taxista, aqui o taxi parte quando estiver cheio (o que varia entre os 4 passageiros + chauffer, e os 7 passageiros + chauffer, depende do numero de criancas que eventualmente la vao dentro, ao colo dos pais). Ja la estava um desgracado a dormir dentro do taxi que me disse que estava a espera a cerca de 1h. Pouco depois apareceram 2 mulheres e uma crianca e ai sim, estavamos prontos para seguir viagem.
Saimos de Porto Ruiz e, chegados perto do cruzamento onde parte o trilho de acesso a catarata de Gocta (a terceira mais alta do mundo), outra estrada em obras, aberta apenas entre as 17h30 e as 6h e das 11h as 12h. La esperamos nos mais 45 minutos ate que a estrada seja novamente aberta. Nessa altura, em conversa com o motorista digo-lhe que o meu destino final nao e Chachapoyas, mas Tingo, a povoacao onde se inicia o trilho para subir ate Kuelap. Diz-me que aquelas horas ja nao ha carros para Tingo, que terei que ficar a dormir essa noite em Chachapoyas e que entao na manha seguinte poderei ir. Retomamos o caminho. A estrada passa debaixo de um meio tunel escavado na rocha em que, mesmo ao lado, corre um rio com caudal e velocidade algo violenta. Ha tambem diversos aluimentos de terra e rocha ao longo da estrada, que bem que precisa de manutencao. Entretanto vamos a subir o monte, quase a chegar a Chachapoyas, quando o nosso taxista comeca a fazer sinais a um carro que vem em sentido contrario. La lhe pergunta se vai para Tingo e se tem espaco para mais um. Rapidamente mudo de veiculo no meio da estrada, enquanto agradeco e pago ao taxista e corro para o novo transporte que acontece ser o alcaide de Tingo, que tinha ido as compras a Chachapoyas. La me enfio no banco de tras do carro, com uma enorme saca de batatas no meio das pernas, a mochila em cima da saca e o braco apoiado em cima dos ovos! Conforto? Isso e para quando tiver 50 anos! La seguimos em direccao a Tingo. Chegados la, e ainda eu nao tinha saido do carro, ja o homem me esta a pedir os 8 soles da viagem. Nao e que nao os mereca, de qualquer maneira eu ia perguntar se lhe devia alguma coisa da viajem ou nao, mas ele e o alcaide. Tem alguma necessidade de ir logo a ganancia, ainda antes de eu ter saido do carro, pedir o dinheiro da corrida? Paguei, mas confesso que fiquei um pouco chateado com a situacao. Entretanto ja estou em Tingo! Cheguei por volta das 20h! Festa! Afinal consegui chegar ainda no proprio dia!!!
Fui a procura de sitio onde ficar e encontrei uma hospedaria muito castica, com o pavimento em madeira, e com uma velhota que me fez lembrar a minha avo quando era mais nova (por causa do cabelo que era mais escuro, e que na minha avo agora esta branco). A cama era de madeira e rangia um pouco e havia umas mantas muito pesadas e quentes, com aquele tipico cheiro a mofo de quando uma casa esta fechada e que, mais uma vez, me vez recordar um misto da casa da minha avo com a casa de Monsanto do Tiago, boas recordacoes portanto. La me indicou um quarto e, tenho de acrescentar, tive uma das melhores noites da minha viagem. Sem barulho de pessoas a entrarem e a sairem do quarto (quando fico em dormitorios), ou dos quartos ao lado (so la estava mais um casal no andar de baixo), sem o barulho dos carros, das motas e dos motocarros na rua... foi espectacular. Dormi mesmo bem.

Adiante, no dia seguinte (4ª feira dia 11) fui e voltei de Kuelap (fica para outro post, este e so sobre as viagens).

5ª feira dia 12 de Fevereiro
Quando acordei no dia seguinte a regressar de Kuelap, estava na altura de iniciar a viagem ate Lima. Com os tenis todos molhados la apanhei um taxi colectivo em Tingo para Chachapoyas. Digo ao condutor que quero ir para Lima ao que ele me informa que o autocarro que vai para Lima ja saiu, que a opcao que me resta e apanhar um autocarro para Chiclayo e depois dai apanhar outro para Lima. Esta bem, se tem de ser assim sera. Entretanto vamos na estrada, e estamos quase a chegar a Chachapoyas quando, vem na direccao contraria o autocarro que vai para Lima. Ele faz-lhe sinal de luzes e buzina e poe o braco de fora e o autocarro la para. “Tem lugar para mais gente?” “Quantos sao?” “Um” “Tem bagagem?” “Apenas uma mochila” “Venha”. E la esta: mais uma vez, no meio da estrada, trocar do taxi para o autocarro. Resultado: por duas vezes que quase fui a Chachapoyas, que e a cidade de passagem (quase) obrigatoria para ir para Kuelap, Tingo, Pedro Ruiz ou Lima, e por duas vezes que nao a vi. Acabei por me vir embora sem ter ido a Chachapoyas.
Entretanto, pouco depois de entrar no autocarro comeca a chover, situacao que se ira verificar durante todo o dia.
So para localizar-vos um pouco melhor, Chachapoyas fica nos andes, mas no departamento da Amazonia (voltado a este, portanto) e o trajecto que o autocarro fez foi subir a cordilheira andina, e descer para o lado oeste, ate a costa.
Uma grande parte do percurso inicial foi feita ao longo de um rio. Esta estrada tinha bastantes aluimentos de terra de ambos os lados, fosse do lado da montanha, fosse do lado do rio. Muitas vezes a propria estrada tinha sido levada tambem. Passamos por varios riachos que atravessavam a estrada. Alias, num destes sitios, ao passarmos por cima de um ribeiro, havia uma bifurcacao em que os veiculos ligeiros passavam numa ponte, os pesados (onde se inclui o autocarro) tinham que atravessar a levada, num local que devia ter cerca de 30 metros de comprimento e uns 30/50 centimentros de profundidade, mas um ribeiro com uma corrente bastante forte.
Atencao que, pode nao parecer, mas as estradas estao, regra geral, em boas condicoes. Maior parte delas foram recentemente asfaltadas, so pontualmente e que se tem de atravessar um bocado de gravilha ou de terra. Ha muitos aluimentos, mas a estrada e rapidamente limpa. Helculeo e tambem o esforco de tentar controlar o leito do rio colocando nas margens cestos de rede de arame cheios de pedras, de modo a evitar novos deslizamentos.

6ª feira dia 13 de FevereiroLa chegamos a Chiclayo a meia-noite onde jantamos dentro do autocarro logo a caminho de Lima, onde chegamos no dia seguinte (para todos os efeitos ontem, sexta-feira) cerca das 12h.

Objectivo alcancado!
Sempre a abrir, nao?
Pneu suplente, cachos de bananas, galinha. Sim, estamos prontos para a viagem!
O almoco esta servido, frango com mandioca numa folha de bananeira
Ja que e para esperar ate que a estrada abra, ao menos esperamos em estilo! Pode ser que de uma ideia nova aos camionistas portugueses

Mais um aluimento de terra para cima da estrada

Um dia ainda aqui vai passar uma auto-estrada

Este e o meio tunel que atravessei. E uma pala natural para proteger do sol! E o rio esta logo ali ao lado

Portanto, a estrada continua do outro lado do ribeiro!!! Sim, vamos atravessar aqui mesmo...

Ali ao lado e possivel atravessar sem molhar os pneus. Que maricas! Ve-se logo que nao tem carta de pesados!

Este e o aspecto do ribeiro que estamos a atravessar visto de cima. Ainda tem alguma corrente, nao acham???....

Medidas extremas para controlar o leito dos rios. A area mais escura onde os trabalhadores estao sao os cestos de rede de arame cheios de pedras, alias estao a encher alguns

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