sábado, 14 de fevereiro de 2009

Amazonas - parte 2

Heis-me de volta.
Depois de chegar a Tabatinga andei a procura de forma como proseguir para Iquitos, ja dentro do Peru. Tabatinga, tal como tinha referido faz fronteira terrestre com Leticia, Colombia, e com Santa Rosa, Peru, do outro lado do rio.
Entao, depois de no lado brasileiro ter obtido genericamente informacoes sobre os barcos que subiam o rio, fui ate a Policia Federal do Brasil, para que me carimbassem a saida do pais. Assim foi. Depois enfiei-me num pequeno barco e atravessei para Santa Rosa. Ai queria carimbar o passaporte com a entrada no Peru, mas nao estava ninguem na emigracao. Uma vez que os barcos para Iquitos partiam de Santa Rosa la fui aprofundar as condicoes dos mesmos. Regressei ao lado brasileiro, de onde ja tinha oficialmente saido, e ainda fiquei a dormir ai mais uma noite. No dia seguinte entao e que volto a Santa Rosa e finalmente consigo o carimbo que preciso. Compro o bilhete para o barco do dia seguinte. Sai as 4h da manha hora brasileira, 3h hora do Peru.
Esta viagem foi feita num barco rapido e foi extremamente desagradavel. A comecar pela hora da partida, depois porque dentro do barco vai um barril de 200 litros de gasolina para alimentar o enorme motor e e um pivete la dentro que ainda nao tinhamos saido ja eu estava enjoado!!! Depois porque o barco era bastante pequeno, o que nao permitia andar de um lado para o outro. Baloicava bastante o que impossibilitava a leitura, fazia muito barulho e vibracao o que dificultava muito o dormir (ainda consegui passar pelas brasas no inicio da viagem, mas depois revelou-se impossivel). Finalmente, os bancos que eram iguais aqueles bancos corridos dos autocarros muito antigos (aqueles ainda do tempo da Rodoviaria Nacional, para quem se lembra), estavam tao gastos que estavamos sentados em cima de uma tabua de madeira, a certo ponto tive que colocar o colete salva-vidas debaixo do rabo para poder ter um pouco mais de conforto/amortecimento. 12 horas nesta brincadeira, nao foi facil. Chegado a Iquitos estava feito num oito.
De Iquitos, que para quem nao sabe e a maior cidade do mundo inacessivel por via terrestre, apenas aerea ou maritima (neste caso fluvial), estava a espera de encontrar outro barco rapido que, em mais 12 angustiantes horas, me levasse ate Yurimaguas, o local onde finalmente existe estrada. Acontece que nao, nao ha barcos rapidos de/para Iquitos para/de Yurimaguas. Mais uma vez tinha que tomar a unica solucao possivel, o barco lento.
Pois e, acontece e que o peruano nao e igual ao brasileiro e isso notou-se a diferentes niveis. Logo a comecar pelo barco, muito mais velho, com menos condicoes e mais sujo de uma forma geral, depois a organizacao da tripulacao tambem era bastante menor, com o processo de entrada e saida de mercadorias no barco ate a hora da partida (e ate mais do que isso pois estava previsto sairmos as 17h e acabamos por sair as 19h)...
Ao longo da viagem tambem me fui apercebendo de algumas diferencas entre os povos. Enquanto que o brasileiro fica quase o tempo todo da viagem a baloicar na sua rede, o peruano prefere andar pelo barco, se um lado para o outro. O peruano tambem e um tanto ou quanto mais porco, pois em diversas ocasioes vi homens e criancas a urinarem do bordo do barco, ao invez de utilizarem as casa de banho, situacao que apenas presenciei uma vez no lado brasileiro.
Fora isso:
  • a comida permanece semelhante (frango e arroz),
  • tambem ha baratas a bordo (e ate a minha almofada vao ter),
  • continua-se a ouvir musica em altos berros (embora o idioma altere),
  • as redes sao mais que muitas e de todas as cores (inclusive padrao camuflado),
  • os barcos continuam a avariar (esta deve ser destino, quando estavamos a sair de Lagunas, no dia da vespera de chegarmos a Yurimaguas, um tronco atravessou-se debaixo do helice e nem para a frente nem para tras. La vamos nos a deriva rio abaixo. Dentro do navio, panico geral, toda a gente a correr para ir buscar e colocar os coletes salva-vidas como se ja estivessemos todos condenados (acho que ainda cheguei a ouvir umas oracoes enquanto andava la de um lado para o outro) - nao percebo como e que a maioria destas pessoas que mora junto ao Amazonas, tem cheias anuais, e que mesmo assim nao sabe nadar! La poem uma lancha na agua e va de empurrar o barco para a margem. Chegados a margem querem prender o barco a umas arvores mas que estavam rodeadas de vegetacao alta. Pedem uma catana. Mais uma vez, nao percebo como e que um barco que navega no rio e quando esta sujeito a que aquilo aconteca com uma certa frequencia, ou ate por outros motivos mais sinistros, nao tenha uma catana a bordo. Pior, dos 200 passageiros que iam a bordo, parece que so o estrangeiro, o turista portugues e que tinha uma catana. Devem ter ficado a pensar que eu era algum tipo de Indiana Jones. La se amarrou o barco (esta e para os marinheiros que acompanham estes relatos) com o que? Cabos de nylon??? Nao que se podem romper. Isto e o Peru, aqui a navegacao e feita com cabos de aco!!! Daqueles bem macios e flexiveis, ideais para fazer um no em qualquer lado!!! Bem, e so gente doida. Depois de estabilizado o barco a atencao virou-se para os mergulhadores que estavam a tentar, com um cabo (este sim de nylon) da grossura de um atacador amarrar o tronco e puxa-lo. Claro esta que este cedeu. Qual a ideia seguinte? Ir buscar outro cabo de aco!!! E que nem oito nem oitenta, este nem dava para amarra o tronco. Bruxo! Finalmente la arranjaram outro cabo de nylon mais grosso e com que puderam puxar o desgracado do tronco de la para fora. Mais 2h de atraso, nao e nada),
  • o por do sol continua espectacular (acrescido que por estes dias estava lua cheia),
  • isto agora nao faz as vezes de um barco que vai para um sitio, agora e um barco que ha-de chegar a um sitio, e que pelo caminho faz todas as paragens necessarias nas mais pequenas povoacoes ao longo do rio, e mais um autocarro, em que os passageiros sobem e descem onde precisam, pela razao anterior, e como mencionei anteriormente, pelo facto de andarem mais de um lado para o outro, a verdade e que tambem o dormir era mais complicado: o barco era mais velho, a vibracao era maior, tal como o ruido do motor, as pessoas passavam constantemente ao pe do meu camarote, arrastanto com elas todo o tipo de mercadorias... uma alegria,
  • curioso verificar que os primeiros homosexuais explicitos que encontro no Peru se encontram embarcados. Tres cozinheiros no nosso barco e mais alguns noutro barco da mesma companhia. Seria um dos ultimos sitios em que esperava encontrar homosexuais. Nao esperava que andassem embarcados pois associo um barco a um ambiente bastante machista.

Chegaram ao fim os meus dias de passeio no Amazonas. Para quando o regresso? Sera que vai haver regresso???....

Isto e o aspecto do nosso barco a meio da tarde, notem que ja se tinham instalado alguns vendedores a frente do mesmo

Isto e o aspecto quando estavamos "quase" para irmos embora, toda a gende a espera de se poder despedir dos seus familiares

Este e o aspecto a hora da despedida. Notem do lado direito da foto os vendedores em cima de outro barco que estava encontado ao nosso. Vende-se tudo o que e preciso para a viagem: redes, cordas (o homem da t-shirt azul com umas coisas brancas ao ombro), papel higienico, pasta de dentes, pastilhas, refrigerantes, comida (claro!), laminas de barbear, tupperwares...

Um momento mais intimo partilhado sem pudor para toda a gente. Alias, ver as maes a dar de mamar em publico e bastante comum nestes paises, e tao natural como o proprio nascimento do filho, nao estamos ca com merdas!

Aparentemente antes havia a possibilidade de pagar em galinhas, arroz, bebidas alcoolicas, ou qualquer coisa que desse jeito na cozinha ou a tripulacao. Cortezia tambem e coisa do passado...

As minhas humildes instalacoes (sim, o cobertor cor-de-laranja e meu)

Passamos por uma localidade que, curiosamente, se chamava Lisboa. Olha, ja estou em casa, esta tao diferente...

Alguem alguma vez sonhou com uma cabana a beira rio? Qualidade de vida!!! Com um iate a porta e tudo!


Esta foi quando chegamos a Yurimaguas, e possivel ver a verdadeira abordagem e invasao que foi feita ao barco. Do lado esquerdo percebem-se pessoas a correr para virem para o barco. E o caos!

Sem comentários:

Enviar um comentário